Uma vez por ano, a propaganda comercial nos faz recordar que a Páscoa está chegando.

Os anúncios de ovos de chocolate começam a dominar os mais diferentes meios de comunicação. Além de dar água na boca, o tradicional ovo de Páscoa simboliza uma vida que está surgindo, justamente porque não se pode celebrar tal festa sem recordar o seu verdadeiro motivo. Para os cristãos, a Páscoa tem um “sabor” mais sofisticado: o sabor da fé no mistério da ressurreição de Jesus Cristo.

Para se compreender um pouco desse mistério da fé cristã, cito um trecho do evangelho de Lucas (24,1-8): “No primeiro dia da semana, muito cedo, (algumas mulheres) dirigiram-se ao sepulcro com os aromas que haviam preparado. Acharam a pedra removida longe da abertura do sepulcro. Entraram, mas não encontraram o corpo do Senhor Jesus. Não sabiam elas o que pensar, quando apareceram em frente delas dois personagens com vestes resplandecentes. Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, disseram-lhes eles: ‘Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como ele vos disse, quando ainda estava na Galileia: O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores e crucificado, mas ressuscitará ao terceiro dia’. Então elas se lembraram das palavras de Jesus.”

Esse trecho evangélico nos recorda o que os cristãos celebram na Páscoa: o dom de uma vida nova que Cristo ressuscitado oferece a todos os que acreditam nele, àqueles que pela fé proclamam Jesus como Senhor e Salvador da humanidade. Depois de sofrer a paixão e a morte de cruz, Jesus ressuscitou, garantindo, aos que nele acreditam, a graça para vencer as seduções ilusórias do pecado, bem como a graça da eterna comunhão de amor com Deus. Eis o “delicioso sabor” da Páscoa dos cristãos.

Neste ano, com o imenso desejo que todos celebrem a Páscoa “provando” a fé em Jesus ressuscitado, penso com muita compaixão em muitos irmãos e irmãs nossos, cuja Páscoa talvez não seja celebrada de modo festivo, justamente porque padecem de algum sofrimento. Independentemente do motivo, tipo e grau da dor desses irmãos, é possível desejar-lhes Feliz Páscoa? É possível que eles tenham uma Páscoa feliz?

Tais perguntas me fizeram recordar um documento do saudoso papa São João Paulo II. Trata-se da carta apostólica intitulada “O sentido cristão do sofrimento humano” (em latim: Salvifici doloris), que no último dia 11 de fevereiro completou 35 anos. Nesse documento, o Santo Padre ensina que o mistério do mal está na raiz de qualquer sofrimento e dor. Sendo assim, para algumas pessoas, tal provação torna-se, infelizmente, motivo para perder a fé em Deus ou ao menos para questionar o amor de Deus pela humanidade. Talvez consigamos até aceitar o sofrimento como resultado de uma escolha errada. Porém, como é difícil compreender o sofrimento de quem não tem culpa, de um inocente!

Para os cristãos, continua São João Paulo II, Aquele que ressuscitou foi o mesmo que sofreu a paixão e a morte de cruz, e por isso a fé em Jesus ressuscitado tem o poder de não somente consolar a angústia dos sofredores, mas sobretudo de oferecer uma profunda alegria espiritual. Além disso, a fé pascal desencadeia gestos concretos de solidariedade aos que padecem algum tipo de sofrimento, e nestes gestos de misericórdia, Cristo ressuscitado se manifesta. Podemos, portanto, dizer também aos que sofrem: Feliz Páscoa!

Padre Wagner Ferreira da Silva é vice-presidente da Comunidade Canção Nova

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