Da Paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Cabo Frio, não se conhece a data de sua criação canônica. É, porém, certo que tenha surgido com o aldeamento que Constantino Menelau realizou em terras da Capitania de São Tomé, descobertas, em 1503, por Américo Vespúcio, habitadas por índios Tamoyos, logo após ter expulsado os franceses, holandeses e ingleses que invadiam as costas do sul do Brasil, pelos negócios de pau Brasil, estabelecendo ali, a 13 de novembro de 1615, os alicerces da povoação que ele denominou de ‘Santa Helena”, e é hoje Cabo Frio.
Naquela mesma data, iniciava ele a construção de uma igreja, destinada a ser Matriz sob o patrocínio de Santa Helena, cujo orago o povo mudou quando se levantou o novo Templo para Nossa Senhora da Assunção, cuja imagem, ainda hoje é venerada na Matriz. Segundo a tradição, foi a terceira imagem, que sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção, chegou ao Brasil trazida de Portugal por Frei Agostinho Santa Maria (a primeira imagem viera em 1551 para Pocinhos, Paraíba e a segunda para Camamu, Bahia). O novo Templo deve ter sido construído antes de 1686, pois neste ano já o visitava o Bispo Dom José de Barros Alarcão. Em 1678, a Paróquia já estava na classe das Paróquias Perpétuas.
A Matriz conservava, numa capela lateral, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, que foi achada numa gruta de pedras, sítio “Focinhos do Cabo”, no lugar chamado “Tabuleiro”, junto ao cabo, pelo pescador Domingos André Ribeiro, no dia 24 de setembro de 1721, quando começou a ser venerada sob o título de Nossa Senhora Aparecida. A imagem media 26 cm e era feita de nogueira. Esta imagem foi roubada da igreja em 23 de setembro de 1984.
Sob a direção da Paróquia, há também um prédio que serviu de “Convento de Franciscanos”, inaugurado a 13 de janeiro de 1676, que teve uma participação muito ativa no desenvolvimento da vida espiritual da paróquia, auxiliando o pároco nos trabalhos pastorais. Chegou a ter 30 frades, dos quais 18 eram sacerdotes; e noviciado de 1707 a 1763. Está sob a invocação de Nossa Senhora dos Anjos.
O último frade residente, Frei Vitorino, morreu no dia 7 de agosto de 1872. Com a sua morte, foi encerrada a vida claustral, ficando o convento abandonado em ruínas e sofrendo muitos danos. Esse prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico, que iniciou sua restauração em 1949.
A Paróquia foi entregue, desde 1937, aos padres franciscanos, por um contrato entre Diocese e a Província do Sul, “ad nutum Santae Sedis”. Esse contrato durou 53 anos e foi cancelado pela Província Franciscana em 18 de março de 1990, voltando a paróquia a ser entregue aos padres diocesanos. A paróquia foi desmembrada em 22 de março de 1958, com a criação da Paróquia do Arraial do Cabo e em 18 de novembro de 1989, com a Paróquia de São Cristóvão, no mesmo município de Cabo Frio.
Atualmente, a Paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Cabo Frio é servida por sacerdotes diocesanos que são responsáveis pela sua organização pastoral e administrativa.
Mais sobre a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção
(Texto: Elzinha Santa Rosa - Bibliografia: "Dados Históricos de Cabo Frio" - Abel Beranger; "Os retábulos e a história da arte religiosa", Oberlaender e Magaly: in: Finageiv, Belmira (org.). "Carta à cidade de Cabo Frio"; Pesquisas de Meri Damasceno e recortes de revistas e jornais da cidade; “500 anos de História” – Secretaria de Educação – Cabo Frio)
Fundada à província de Cabo Frio, em 13 de novembro de 1615, e determinado o lugar da povoação, “também se designou o da pequena igreja destinada a servir de matriz, que foi dedicada a Santa Helena, cujo orago o povo mudou quando levantou o novo templo, sob a invocação de Nossa Senhora D’ Assumpção, com maior dimensão que a primeira”.
De arquitetura típica do século XVII, estilo jesuítico, com altares barrocos. Essa Matriz é cem vezes mais antiga que as famosas igrejas mineiras, quase um século antes de ciclo do ouro.
Para algumas obras, concorreu a Fazenda real que mandou pagar a importância dos consertos necessários, e outra que determinava pagar a importância de um retábulo de madeira lisa, e pintado à semelhança de pedra, para a Capela Mor.
Em 1818, a Igreja paroquial “era grande e irregular, pouco ornamentada, sem teto, concordando com a pobreza das casas que a cercavam”. (Saint-Hilaire)
Diz à tradição que a primitiva igreja foi erigida no bairro da Passagem, onde era a residência da família terra, antigo “Hospício de S.João Batista”, lugar de hospedagem dos frades viajantes. Hoje, quebrando um pedaço da história local, encontra-se erguido o edifício “Rosalina Ferro”.
A imagem da Padroeira é de escultura de madeira e data da fundação e ereção da Igreja. Foi a terceira, no século XVII, trazida de Portugal para o Brasil e para Cabo Frio, por Frei Agostinho de Santa Maria (Mensageiro da Fé – 1952).
Como Igreja Matriz, foi logo servida de pároco, “encomendado”, até que entrou na classe das paróquias perpétuas, antes do ano de 1678. O último vigário de Cabo Frio foi o Padre José Duarte Nunes, português que muito trabalhou, deixando um grande patrimônio para nossa cidade: o prédio do salão paroquial que ele comprara do clube Tamoio, o terreno onde hoje está construída a grande Matriz Auxiliar de Nossa Senhora da Assunção e o grande terreno onde está construído o Colégio Sagrado Coração de Jesus, da Congregação das Irmãs Franciscanas.
A Matriz foi restaurada pelo artista plástico, professor Adail Bento Costa, no ano de 1960, sendo o Altar Mor, escultura do português Manoel Bessa, entalhe em barroco, cujo trabalho de marcenaria contou com a preciosa ajuda do grande artesão cabo-friense Sr. Titinho Oliveira. Também os altares laterais e o da capela de Nossa Senhora do Rosário são do mesmo estilo e ali colocados na época da reforma.
Existiu ao lado da Matriz um lindo prédio – “Império”, que servia, especialmente para os leilões das festas da Padroeira e do Espírito Santo. Hoje, nesse local, encontra-se a livraria paroquial, construída na época em que o pároco era o Pe. João Luis, no ano de 1997, no mesmo estilo da Matriz, formando com o salão paroquial ao lado, um belo conjunto arquitetônico.
Há no interior da Matriz algumas peças de rara beleza onde se destacam a Pia Batismal, a Urna do Santíssimo e as telas dos Quatro Evangelistas. Algumas imagens do século XVII merecem destaque especial: São Francisco de Assis e Santo Antônio de Pádua, em dois nichos na lateral do altar Mor; São José de Botas e Nossa Senhora do Rosário, na capela lateral esquerda; São Joaquim e o Arcanjo Gabriel, na capela da Virgem Aparecida; Sant’Ana, na lateral direita da nave principal, perto da porta de entrada. Nossa Senhora das Dores, o Senhor dos Passos e o Senhor Morto ficam guardados na Capela do Santíssimo e apenas na Semana Santa são colocados em exposição.
Pia Batismal
Exemplar de grande proporção, executada no século XVII, em mármore de Lioz, dotada de coluna e tampa. Nela, o sacerdote verte a água benta com a concha batismal sobre a cabeça de uma criança ou de um adulto. Existem apenas cinco pias dessa no Brasil.
Urna do Santíssimo
Conjunto de mesa e urna com decoração em talha dourada, do século XIX, tendo a tampa encimada pelo Cordeiro Pascal que repousa o livro dos sete selos. Esse tipo de Sacrário, estilizado, serve para guardar as hóstias consagradas durante a cerimônia de adoração do Santíssimo Sacramento realizada na Quinta-Feira Santa, na semana da Paixão de Cristo. É considerada uma das peças de culto mais significativa das igrejas, principalmente das matrizes. Também denominada Urna dos Pré-Santificados ou Urna do Cordeiro Místico, por sua sugestiva decoração reverenciando a Eucaristia.
Telas dos Quatro Evangelistas
Vê-se nas paredes laterais da nave central, quatro belas telas encontradas no forro antigo da Matriz que foram descobertas na época da restauração, em 1960, com pintura de autor desconhecido.
Altar de Nossa Senhora Aparecida
Numa capela construída dentro da Matriz vamos encontrar um notável altar, de primorosa execução, datado do século XVII, dedicado à Nossa Senhora Aparecida de Cabo Frio. Executado em talha decorada, revestido de dourado, com corpo e coroamento perfeitamente integrados, apresentando arcos concêntricos com elegantes acantos e simbologia bíblica. No coroamento da talha aparecem as armas do Reino Português encimados pela coroa.
Nesse altar, conserva-se hoje, uma réplica da imagem da Santa Virgem sob o título de “Conceição Aparecida de Cabo Frio”, encontrada no lugar chamado “Taboleiro”, numa grota de pedras batida pelo mar, denominada “Galhetas”, no Focinho do Cabo, na localidade do Arraial do Cabo, antes distrito de Cabo Frio, pelo pescador Domingos André Ribeiro. “Imagem feita de nogueira, do comprimento de um palmo e três dedos, desbotada de todas as tintas, e somente com encarnação atada perfeita no rosto e nas mãos, que mostrava ser a Senhora da Conceição, por trazer uma lua sob os pés e as mãos levantadas”.
O pescador levou-a para casa. Chegando, porém, o fato ao conhecimento do Governador da cidade, Tenente Coronel Manuel Alves da Fonseca, aconselhou-se este com o vigário e ficou resolvido transladar a imagem, com toda pompa, para a Igreja Matriz, em procissão, no dia 2 de outubro do mesmo ano, sendo colocada num nicho, ao lado direito do altar-mor. No dia seguinte a Câmara enviou ao rei um auto do aparecimento, pedindo também auxílio para erigir um templo em honra da Virgem Aparecida. Após uma série de inquéritos, o rei D. João V ordenou “que se levantasse capela dentro da Igreja Matriz não despendendo com as obras mais que um conto de réis”.
É o altar ornado com retábulo de talha dourada e docel com nicho onde está colocada a imagem.
Essa imagem foi roubada da Matriz por duas vezes. No dia 20 de março de 1984, os ladrões, conhecedores de arte sacra, entraram na igreja e levaram além das duas imagens de grande valor histórico (Nossa Senhora Aparecida - a segunda de três que vieram de Portugal no século XVII, e a imagem de Nossa Senhora da Conceição, da mesma época), a coroa da padroeira e dois anjos que adornavam a imagem no altar principal, a coroa e o punhal de prata de Nossa Senhora das Dores, a coroa de prata do Senhor dos Passos, três cálices com patenas, dois ostensórios de grande valor histórico, um crucifixo, também do século XVIII, e vários adornos e objetos sacros.